SBD-GO
NOTÍCIA
28
Jun
O POPULAR
Covid-19 deixa rastro de sequelas por mais de seis meses
Síndrome Pós-Covid: Problemas de saúde são mais comuns em
pessoas que desenvolveram graves da doença. Pacientes chegam enfrentar mais de
seis meses de sintomas
Depois de mais de um ano do início da pandemia da Covida-19 no
Brasil, a extensão dos sintomas e das sequelas da doença nos pacientes ainda é
estudada por especialistas. A chamada síndrome pós-covid pode ser manifestar
desde a permanência da perda do olfato e do paladar até problemas mais graves
como, por exemplo, episódios de trombose. Alguns pacientes já estão levando
mais de seis meses para se recuperar.
Resultados preliminares de uma pesquisa recente da Fundação
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo feita com pessoas que desenvolveram
casos graves da doença mostraram que 89,3% delas tiveram algum sintoma
prolongado da doença. Entretanto, a situação também se estende a pessoas que
desenvolveram quadros leves e moderados da Covid.
O anestesiologia Solon Maia, de 40 anos, teve Covid-19 em
dezembro, ficou 80 dias internado e precisou de uma ECMO (oxigenação por
membrana extra corpórea), que funciona como um pulmão artificial, para
sobreviver. Em março, ele teve alta. Porém, a previsão é de que o tratamento
dele dure de um a dois anos.
Solon teve necrose na cabeça do fêmur de ambas as pernas por
conta da do uso de medicamentos, estreitamento da garganta pelo tempo que
passou entubado e enfrenta a síndrome dos pés caídos pelo tempo que ficou
internado, necessitando de um aparelho para ajudá-lo a se locomover. Além
disso, tremores nas mãos fazem parte da rotina. “Sei que todo dia eu caminho
para melhorar”, pontua.
A designer de interiores Lana Zedi, de 58 anos, teve a doença em
fevereiro e necessitou ficar em Unidade de Terapia Intensiva por 10 dias.
Durante esse período, ela teve 90% de comprometimento pulmonar e precisou ser
entubada. Entretanto, depois de recuperada, ela continuou com comprometimento
de 30%.
No próximo mês, Lana ainda terá de se submeter a outros exames
para ver se o pulmão continua comprometido. Além disso, ela ainda tem de lidar
com alguns sintomas como, por exemplo, a falta de memória. Entretanto, a
designer ainda considera que teve uma boa recuperação. “Levando em conta a
minha idade é o fato de que nunca fui uma grande esportista, acho que estou
bem”.
O infectologista Marcelo Daher diz que quanto mais grave um
paciente fica, mais comum é ele continuar com sintomas, mesmo depois da alta
médica. “Um paciente com comprometimento pulmonar elevado, vai ter uma chance
maior de ter problemas depois. Essas pessoas também precisam ter atenção para
os eventos tromboembolicos”, aponta.
Entre as principais queixas dos pacientes com síndrome
pós-covid, ele aponta a perda do olfato e paladar, confusão mental, perda de
memória, falta de concentração, cansaço e fraqueza. “São eventos bastante
relatados. O que recomendamos é que esses pacientes graves continuem fazendo
acompanhamento para avaliação do quadro geral “, esclarece.
Principais órgãos
Apesar de ser mais em comum, a síndrome pós-covid pode afetar
órgãos importantes como o cérebro e o coração, especialmente naqueles pacientes
onde o quadro da doença foi mais grave.
O presidente da Sociedade Goiana de Cardiologia, Leonardo Sara,
aponta que as complicações cardiovasculares mais sérias podem estar
relacionadas com processo inflamatório do músculo cardíaco. “Isso pode deixar
áreas de fibrose no coração, se tornando foco de potenciais arritmias“, diz.
Ele afirma ainda que outra possibilidade de sequela é um enfarte, seja porque o
coração foi sobrecarregado ou porque ele sofreu trombose de alguma artéria.
O neurologista José Guilherme Schwan explica que é possível que
a Covid cause lesões no cérebro e acidentes vasculares cerebrais. Entretanto,
esses episódios são mais raros. Ele conta que os sintomas neurológicos vão
desde os mais leves, como fraqueza e dificuldade de concentração, até os mais
graves, como neuropatia inflamação dos nervos.
O médico revela que tem sido cada vez mais comum pacientes
chegarem ao consultório com sintomas prolongados da doença. Schwan aponta que o
melhor caminho para evitar e atenuar os sintomas é mantendo uma boa rotina de sono,
exercícios físicos e alimentação. “Entretanto, caso esses quadros sejam
persistentes, a melhor saída é fazer consulta com um profissional”.
Prejuízos à saúde mental também são significativos
Além das sequelas físicas que a Covod-19 pode deixar, danos
psicológicos também estão associados à síndrome pós convide. Estudo da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo feito com pacientes graves
recuperados da doença mostrou altos índices de delírios (6,35%) e alucinações (8,71%)
em relação a dados disponíveis sobre a população geral.
Na prática, a psicóloga Adriane Rodrigues, disse que tem visto
muitos casos de crise de pânico, ansiedade e depressão associados à Covid-19.
“Isso vai depender muito do paciente, de como ele e as pessoas próximas
enfrentam a doença “, explica Adriene.
A psicóloga afirma que a maioria dos casos está associada aos
pacientes que desenvolveram a doença de forma grave. “Os quadros de depressão e
ansiedade são mais comuns nas pessoas que tiveram sequelas relacionadas à saúde
física de forma mais acentuada“.
Adriene afirma que a vontade dos pacientes superarem as sequelas
e sintomas prolongados acaba gerando muita ansiedade, o que pode desencadear
problemas psicológicos. “Entretanto, é preciso ter paciência durante o
tratamento. Pacientes com perda de memória, por exemplo, precisam fazer
exercícios para retomar essa habilidade. Isso leva tempo”.
A psicóloga explica que, por si isso só, a sociedade já vivencia
um momento delicado e que as incertezas relacionadas à evolução da doença e às
possíveis sequelas posteriores geram ainda mais insegurança nos pacientes.
“Esse desequilíbrio interfere na saúde mental das pessoas e isso é, de certa
maneira, é natural “, esclarece.
Por isso, o acompanhamento psicológico e até mesmo psiquiátrico
deve ser feito assim que os pacientes perceberem componentes diferentes dos
rotineiros. “Sono conturbado, falta de energia e uma agitação exacerbada são
sinais que merecem atenção. Quando eles ocorrem, é a hora da pessoa procuram
ajuda profissional para “, finaliza psicólogo
Cirurgia para retirada desse escaras tiveram aumento
Desde o início da pandemia da Covid-19, a comunidade de
cirurgiões plásticos tem percebido um aumento de procedimentos para tratar
escaras (feridas que podem surgir em áreas da pele que ficam muito tempo sob
pressão e são comuns em pacientes que permanecem internados muito tempo),
especialmente na região sacral, depois do início da pandemia de Covid-19.
O cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica - Regional Goiás (SBCP-GO), Marcelo Prado, explica que o ideal é que
os pacientes internados tenha a posição alternada a cada duas horas.
“Entretanto, por conta do tratamento da doença nem sempre isso é possível e
essas escaras acabam aparecendo com mais frequência“, esclarece.
O anestesiologia Solon Maia, de 40 anos, que enfrenta várias
sequelas da doença, teve de ser submetido a três cirurgias para tratar uma
escara sacral que apareceu depois de ele ficar muito tempo deitado na mesma
posição durante o tempo que ficou internado. O médico teve de usar drenos para
fazer vários tipos de curativos diferentes para conseguir cicatrizar a ferida.
“De todas as sequelas que eu enfrentei, essa foi a pior revela.
Prado afirma que a maioria das escaras pode ser evitada e que
por isso, é importante que os familiares da pessoa internada estejam atentos a
isso. “É claro que alguns casos vão acontecer, mas sabendo da existência da
escara, ela pode ser tratada ainda durante a internação ou logo depois que a
pessoa receber alta, evitando o sofrimento e desgaste para os pacientes “,
finaliza.
A queda severa de cabelos está entre os sintomas prolongados
A queda severa de cabelos está entre os sintomas prolongado
sofridos pela maioria dos pacientes que contraiu Covid-19. A presidente da Comissão
Científica da Sociedade Brasileira Dermatologia – Regional Goiás (SBD-GO),
Lorena Dourado Alves, explica que normalmente depois de o corpo passar por um
grande estresse como, por exemplo, uma longa internação ou uma cirurgia. Isso
costuma ocorrer por volta de três meses depois do episódio.
Entretanto, entre pacientes que tiveram Covid-19 esta queda tem ocorrido
bem mais cedo. “É uma queda considerável. A procura no consultório aumentou
muito”, explica. De acordo com ela, o perfil dos pacientes vai dos que tiveram
a doença de forma grave até aqueles assintomáticos.
De acordo com ela, cientistas investigam o fato de que a queda
precoce possa acontecer pelo fato de ser uma doença inflamatória, ela pode ter
efeitos tromboembólicos ou como microtrombos do folículo piloso, diminuindo a
circulação no local e contribuindo para a queda. “Entretanto, isso ainda está
sendo estudado. O fato de a doença causar febre também pode contribuir para
essa queda“. A dermatologista explica que o tratamento para o problema existe e
costuma ser eficaz. “As pessoas devem procurar ajuda assim que notarem a
queda”.